Rogai Por Nós - Parte 5














“O umbigo faminto protesta (se protesta) por causas individuais, alimentado deita e dorme”.

























70%




- Senhorita prefeita, com licença

- Sim

- Sim, a dona Glória está aí fora, ela exigiu entrar e conversar contigo.

- Mas que audácia...  deixe ela entrar.

- Sim, com licença.
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- Oi filha, nossa que lindo seu gabinete hein. Fico feliz de ver aonde você chegou.

- Vamos ao que interessa, o que a senhora quer?

- Calma, por que tanta agressividade? Eu só quero seu bem, filha. Olha a política é um lugar perigoso demais para você, precisa sair disso o quanto antes, tem muita gente ruim aqui dentro, sabe.

- A senhora que o diga né

- Eu sei que deve sentir magoas minhas, mas o que eu fiz foi para o bem de vocês.

- Ah não me vem com esse teatrinho.

- Eu desconfio que você esteja por detrás das prisões dos vereadores.

- Agora eu sou culpada? Esse bando de imbecis rouba na cara dura do povo e eu sou a culpada?

- Eu só vim aqui como sua Mãe te dar esse alerta.

- Ok, já deu, agora pode se retirar.

       A dona Glória se tornou uma mulher ambiciosa e tão verme quanto o vereador Arlindo Forçosa que agindo pelo instinto começou a cavar a própria cova. Kesia não demorou para responder as ameaças dela e o Clã se tratou de cortar suas asinhas rapidinho. Arlindo junto com outros vereadores cassados foram levados para um presídio no sul do estado, acontece que Kesia como braço direito do Governador estimulou uma manobra política causando uma das piores rebeliões da história do estado do Rio Grande do Norte. Entre as dezenas de mortos estavam todos os vereadores, incluindo o principal deles Arlindo Forçosa. A má administração do presídio era um erro que Kesia vinha sinalizando a muito tempo, ela simplesmente mexeu os pauzinhos para favorecer o partido, se favorecer e decretar de vez seu ingresso como Deputada Federal. Dona Glória quando viu Kesia fazendo duras críticas sobre a rebelião na TV ficou extasiada e entrou em desespero.

- Eu tô falando Zé, nossa menina virou uma bandida, eu tenho certeza que ela tem alguma coisa a ver com essa rebelião

- O que você tá falando? Por acaso ela trabalha no presídio? Não! Então pronto.

- Você não entende Zé, eu tô no meio desses políticos, eu sei do que tô falando.

- Glória, você largou a gente na miséria quando podia nos ajudar, você me traiu, você traiu a nossa família e agora que a Kesinha conseguiu nos dar uma vida decente e digna não vou admitir que fala assim dela, dobre sua língua para falar da minha filha, tá ouvindo?!

- O que está acontecendo aqui?

- Kesia?

- Filha, você acredita que essa mulher teve a audácia de vir aqui em casa e te acusar de ter envolvimento com a rebelião.

- Me acusar?

- Eu não te conheço mais, Filha - Glória estava amedrontada.

- Não me chama de Filha, eu proíbo a senhora de entrar nessa casa, aliás, eu te proíbo de pisar nessa rua.

- Calma filha, querendo ou não ela ainda é sua mãe.

- Minha mãe pai? Minha mãe? Ela pode ser tudo, mas deixou de ser minha mãe quando saiu aquela vez de casa nos traindo.

       Kesia não forçou mais a barra, pois dona Glória entendeu o recado e se acuou. Aquela Rebelião não significou apenas um gostinho de vingança para Kesia significou o ápice do poder, as eleições vieram e ela foi eleita Deputada federal, agora era só somar forças para o Clã da Constituição Nova. Entre outras funções, um deputado federal brasileiro é responsável por fiscalizar os atos do poder executivo, em outras palavras é a galera que executa as leis. Outra função é zelar pelos direitos constitucionais do povo. Agora convenhamos, com os então Deputados Federais Nico Lisboa e Kesia Aguiar e a desembargadora federal Melissa Junqueira, direitos do povo era a última coisa que eles queriam. Nico, Melissa e Kesia estavam voando e voando alto, eles estavam com uma moral elevadíssima na política brasileira, Nico se tornou um dos principais conselheiros da então Ministra-chefe da Casa Civil Eleonora Martins e é claro que se aproveitariam disso

- Eles estão achando que ‘tão’ totalmente por cima.

- Mas eles fizeram essas licitações mesmo, Nico?

- Fizeram e digo mais, já está tudo esquematizado para a aplicação direta em paraísos fiscais e o melhor, eu tenho como acessar essas contas.

- E aí Kesia, como a gente faz para melar esse bolo e pegar o nosso?

       Kesia se formou em economia, além de estrategista política também era exper em matemática financeira e assim foi convidada pelo próprio Presidente da República para ser sua ministra da fazenda e planejamento. Eles bolaram um plano que diminuiria as taxas de juros, a economia aqueceria e a dívida externa estacionaria, para isso Nico contou com a influência da Ministra da Casa Civil e Melissa com o presidente do Bacen (Banco Central do Brasil) Ivan Maldonado, seu noivo. O resto era com a nova Ministra Kesia Aguiar. Aparentemente isso parecia ser bom para todo mundo, só que tem muita gente fazendo corrupção no Brasil e manter esse equilíbrio financeiro por muito tempo seria impossível, eles sabiam disso e agiram propositalmente. O Clã da Constituição Nova manteve o plano em ação o que induziu a falsa ideia de economia boa e crescente dando margem para o largo desvio de dinheiro público por debaixo dos panos mediante os políticos.

       Na verdade o que eles estavam fazendo era um rombo fiscal que só teria consequências num futuro bem próximo, Nico, Melissa e Kesia tiravam uma fortuna por fora sem que fosse perceptível, eles conseguiram embutir juros em contas bancárias e saldos de taxas administrativas em contas correntes com percentuais que pouco seria bom para os bancos e menos ainda para os clientes, só que num país onde a educação básica te dá um ensino em que 70% do que se aprende não irá servir pra nada na sua vida, você acha que milhões de pessoas perceberiam esse golpe? Dificilmente, por exemplo a disciplina obrigatória de Matemática no ensino básico faz o aluno aprender coisas triviais, como a fórmula de bháskara, algo que não vai servir em nada na vida cotidiana  dele, então por que insistem em ensinar esse e outros conteúdos inúteis ao invés de ensinarem coisas básicas como aplicação de dinheiro e controle de gastos? Por que convém para o estado não mexer no conteúdo programático educacional e a gente aceita isso sentados de boca calada e sem desconfiar da tal “manobra corrupta”. O sistema educacional brasileiro amigo é uma piada, a educação no Brasil é falida e o Clã da Constituição Nova iria jogar esse sistema mais fundo ainda.

- Você acha que o Ivan consegue segurar essas taxas até quando? Por que o povo é burro, mas o Ministério Público até que tem uns espertinhos.

- O Ministério Público você deixa comigo Nico, já o Ivan não vai conseguir segurar por muito tempo, ele é fraco.

- Nossa Mel, me admira muito você falar assim do seu noivo.

- Ah Kesia, até parece que você não me conhece né.

- Mas então a gente derruba o Ivan agora?

- Não, ainda precisamos dele?

- Mas você disse que ele é fraco!

- Sim, ele é fraco, mas será ele que vai trair o nosso esquema, só que aí serão os nossos laranjas que vão dançar e abrir a boca do bueiro para todos eles caírem

       Os laranjas a que Melissa se refere são aqueles políticos que chefiam altos esquemas de corrupção, como se fosse uma pirâmide em que no topo está o líder seguido por uma tropa de ladrões. Melissa, Kesia e Nico iriam partir para o plano mais ousado, corrupto e fatal, desvios dos cofres e superfaturamentos públicos. Quando se fala de dinheiro fácil o lugar certo é a política e o CCN (Clã da Constituição Nova) atento as todos os gananciosos precisava montar uma quadrilha, uma quadrilha que eles mesmos não participariam, uma quadrilha que seria pega quando a bomba dos desvios públicos estourasse e a Kesia como Ministra da Fazenda sabia exatamente quem seria esse laranja líder.

- Fazendo alguns balanços com a ministra Eleonora fiz ela enxergar uma fragilidade nas contas da Petrobrás,

- Então se a gente coloca essa informação e poder na mão do nosso laranja, xeque-mate, o Brasil fali.

- Boa e quem seria o nome mais cotado para ser nosso laranja líder.

- Aí fica fácil pessoal

- Como assim Ké?

- Eu não conheço cara mais ganancioso, soberbo e burro ao mesmo tempo do que o governador do Rio de Janeiro.

- O Governador Ademir Figueiredo?

- Meu Pai?

- Sim, me desculpa os termos referente a ele Mel, mas com ele tendo acesso a essas informações e poder para desvio, a bagaceira tá feita e o seu pai na vala.

Está no imaginário popular: “a Petrobrás é do povo brasileiro”. Desde seu surgimento até a década de 90, a Petrobrás era vista como uma empresa nacional, estatal e estratégica, cuja função era garantir o abastecimento de petróleo e derivados para a economia brasileira. Digamos que essa foi uma conquista de uma das maiores mobilizações da história do povo brasileiro, pois antes não se produzia petróleo no Brasil, empresas internacionais investiam em outras descobertas de óleo em nossas terras como fonte de capital. Certo, criou-se a Petrobrás propriedade e controle 100% brasileiro, só que na realidade os trabalhadores nunca tiveram controle da empresa, ela era estatal. A estatal é uma ‘empresa pública’ criada e mantida pelo governo para interesses públicos sobre a economia, ou seja, é o governo que controla majoritariamente uma estatal, para ser mais exato quem fiscaliza as estatais é um órgão chamado Controladoria-Geral da União (CGU). O que acontece hoje é efeito de uma nova regulamentação no setor de petróleo onde a CGU deixou de ter controle total do capital da Petrobrás dividindo as ações com sócios privados, tanto empresas particulares brasileiras como empresas internacionais. Uma dessas empresas particulares foi fundada por Nico, Melissa e Kesia – BR Refinaria - uma empresa laranja, a empresa que fragilizava as contas da Petrobrás e é aí que entra o Governador do Rio de Janeiro Ademir Figueiredo,

- E aí Melissa essa é a hora de se vingar!

- O que acha Mel?

- Vamos mandar esse Filha da Puta pro inferno!
       
O Governador do Rio de Janeiro Ademir Figueiredo era um dos políticos mais odiados no senado, ele tinha rixa até com companheiros do próprio partido. A BR Refinaria foi repassada a ele em compra orientada por um suposto assessor de contas da Ministra da Fazenda Kesia Aguiar com informações de fácil desvio de verbas.  Na ideia dele a descoberta de uma conta frágil na Petrobrás e poder para desvios era uma forma de se vingar. Ademir tinha alguns aliados e os beneficiou, esses aliados tinham outros aliados que se beneficiaram também, o esquema amigo, estava indo de vento em polpa e mal sabiam que o CCN os manobrava.

       Com a Ministra da Fazenda Kesia Aguiar manobrando supostas contas em paraísos fiscais, muita gente, mas muita gente estava mordendo uma grana astronômica, uma lavagem de dinheiro descarada e quem pagava com isso era o povo que mal suspeitava da tragédia econômica que estava prestes a vir, aliás ninguém suspeitava. O CCN fez um nó que só eles conseguiriam desatar, exigiu tempo, trabalho, planejamento, estratégia, comunicação e muita frieza ligada ao ódio e a vontade de vingança, os três eram os mais corruptos da gestão pública brasileira e também tiravam muito dinheiro por fora, a diferença é que estavam em outro nível.






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