Adélia é a Escritora da Semana aqui no Categóricos.
Durante toda semana vamos contar sobre a vida e obras de Adélia Prado.
Durante toda semana vamos contar sobre a vida e obras de Adélia Prado.
Agora: uma bateria de poesias da autora!
Bilhete Em Papel Rosa
Adélia Prado
Quantas loucuras fiz por teu amor, Antônio.
Vê estas
olheiras dramáticas,
este poema roubado:
"o cinamomo floresce
em frente do
teu postigo.
Cada flor murcha que desce,
morro de sonhar contigo.
" Ó
bardo, eu estou tão fraca
e teu cabelo é tão negro,
eu vivo tão perturbada,
pensando com tanta força
meu pensamento de amor,
que já nem sinto mais fome,
o
sono fugiu de mim. Me dão mingaus,
caldos quentes, me dão prudentes conselhos,
eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,
a tua boca de brasa, Antônio,
as nossas vidas
ligadas
Antônio lindo, meu bem,
ó meu amor adorado,
Antônio,
Antônio.
Para sempre tua.
Pranto Para Comover Jonathan
Adélia Prado
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é
imenso?
Meu amor é maior
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
Enredo para um tema
Adélia Prado
Ele me amava, mas não tinha dote,
só os cabelos pretíssimos
e um beleza
de príncipe de estórias encantadas.
Não tem importância, falou a
meu pai,
se é só por isto, espere.
Foi-se com uma bandeira
e ajuntou ouro pra
me comprar três vezes.
Na volta me achou casada com D. Cristóvão.
Estimo que
sejam felizes, disse.
O melhor do amor é sua memória, disse meu pai.
Demoraste
tanto, que...disse D. Cristóvão.
Só eu não disse nada,
nem antes, nem depois.
A invenção de um modo
Adélia Prado
Entre paciência e fama quero as duas,
pra envelhecer vergada
de motivos.
Imito o andar das velhas de cadeiras duras
e se me surpreendem,
explico cheia de verdade:
tô ensaiando. Ninguém acredita
e eu ganho uma hora de
juventude.
Quis fazer uma saia longa pra ficar em casa,
a menina disse:
"Ora, isso é pras mulheres de São
Paulo"
Fico entre montanhas,
entre
guarda e vã,
entre branco e branco,
lentes pra proteger de reverberações.
Explicação é para o corpo do morto,
de sua alma eu sei.
Estátua na Igreja e
Praça
quero extremada as duas.
Por isso é que eu prevarico e me apanham
chorando,
vendo televisão,
ou tirando sorte com quem vou casar.
Porque que tudo
que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as
escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.
Poema Começado no Fim
Adélia Prado
Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu
corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que
estou num filme
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele
dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
A Serenata
Adélia Prado
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão
incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo
dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for
natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos
entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo
que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem
juventude?
A lua, os gerânios e
ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou
abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
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