Vicent



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Na porta da eternidade
Por Vicent
O fato de que Van Gogh sangrava na minha frente deve ser considerado um belo argumento na tese de que eu estava em um sonho. Se quiserem um contra posto disso, posso argumentar também que eu, Vicente, um simples jovem do seculo 21, geralmente tenho os sonhos frequentados por amores correspondidos e meninas da minha subdesenvolvida cidade, o que faz do Bukowski olhando O Van Gogh morrer na minha frente, a coisa mais possível de ser real que tenho sonhado ultimamente.
"Estava esperando por você", Bukowski me disse antes que eu pudesse ter alguma reação. "Sente-se aí, do lado do Van!"
"Suicídio?", Perguntei, mas me pareceu um assunto delicado, já que o único que teve coragem de responder foi o silêncio.
"Sabe Vicente. Eu falava com o sem orelha que nem todas as grandes coisas vêm do sofrimento. Ás vezes é só o amor de uma vadia mesmo. Nem tudo é sacrifício."
"Há certas horas em que o sacrifício é conveniente", retrucou Van Gogh.
"Talvez..." O silêncio domou a sala por um bom tempo. "As pessoas deviam te pedir desculpas. Me desculpa. Merda. Eu também passei por essas merdas. Mas isso não significa que você pode culpá-las a vida toda e fazer birra se deixando morrer, chega uma hora em que..."
"E se vocês tivessem visto amor ao invés de outras coisas, como... Como o Neruda", eu disse ao cortar ao meio o raciocínio do Bukowski.
"Quem?", Perguntou Van Gogh.
"Pablo Neruda"
"Pablo teve seus próprios sacrifícios. Viu seu povo perdido."
"É, mas ele nunca deixou seus olhos morderem o esquecimento."
"Isso é lindo, jovem", me disse Van Gogh ao começar a tossir um pouco de sangue. "Mas... coff, Mas Neruda era lucido... coff, coff, Lucido demais para ver que não há solução... coff, Que não há solução para a maldade das pessoas."
Em seguida Bukowski pegou um papel e uma caneta dentro da sua bolsa, em movimentos raivosos escreveu alguma coisa deixou na cadeira e saiu. Imediatamente levantei fazendo jus aos fãs de cantores POP e pulei em cima do papel. 
Nele havia escrito:


Van, putas não querem
orelhas
elas querem
dinheiro.
Acho que agora sei por que
você foi um grande
pintor: você
não compreendia
as outras coisas da vida.

"O que está escrito ai?", Perguntou Van gogh. "Nada demais, tenha uma boa morte", respondi.
Enquanto me encaminhava para a porta Van gogh me disse uma última coisa. "Ei moleque, a gente se vê na eternidade!" Eu não tive coragem de responder, mas pensei comigo, "Espero que sim Van, espero que sim..."

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Vicent
Escritor residente. Facilitador literário.


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