Carta aberta




Categóricos, a história.

Essa é uma carta
 sobre a história do coletivo artístico
Categóricos em seu tempo
cronológico.
O Categóricos nasceu em 02 de Abril de 2013 fundado pelos Multiartistas, os irmãos Lily Vieira e Dedé Vieira como blog webjornalístico. No blog narravam situações noticiadas no dia a dia com um toque de humor, acidez e um tom teatral. No mesmo ano no percurso das pesquisas teatrais e a comunicação, os irmãos Vieira (Dedé e Lily) se juntam com o poeta e ator Cristiano Régis (em memoria) para reformular o blog e assim transformá-lo em site literário.
Em 2014 atraídos pela boa repercussão do site do Categóricos, Marcelo Marques, coordenador pedagógico da escola estadual Jardim Canaã, localizada no coração do Morro Doce, bairro da zona noroeste de São Paulo e a eterna madrinha do Categóricos, a educadora Sonia Dionísio convidaram o trio de artistas a levarem os conceitos do teatro para dentro da escola. Assim surge o Categóricos no plano físico e mais presente no território com um site literário e o núcleo de teatro.
“Todos os Defeitos de Uma Família Cheia de Farsas” foi o primeiro espetáculo teatral do Categóricos produzido. Formava-se aí a primeira turma do núcleo de teatro em 2014 com alunos da Escola Estadual Jardim Canaã. Com todas as ansiedades naturais, a estreia foi dentro da escola e era aberta a comunidade. Para a surpresa de muitos, a peça teve mais de 100 pessoas na plateia. O espetáculo então foi para o único teatro do bairro, o teatro do CEU Parque Anhanguera e lá esgotaram os 140 lugares disponíveis. Assim o grupo finca a bandeira de vez enquanto fazedores de teatro no bairro do Morro Doce.
Na internet o Categóricos seguia de vento em polpa na era da blogosfera fazendo parcerias, produzindo conteúdo literário próprio e foi nessa época, meados de 2014 que Cristiano Régis, a mente determinante para a formulação do núcleo de teatro decide deixar o grupo. Os irmãos Vieira então continuaram sua jornada sozinhos enquanto produtores de literatura e teatro.
Em conversas com um antigo parceiro e amigo os irmãos Vieira trouxeram para o site o escritor e blogueiro Paulo Cheng (Pernambuco) que estreou na plataforma do Categóricos no dia 30 de junho de 2014 e essa parceria rendeu uma nova cara ao grupo.  Agora com facilitadores literários em São Paulo e Pernambuco o site começou a despertar novos horizontes por conta da linguagem popular que colocavam nos textos acolhendo leitores dos quatro cantos do país.
Em 23 de Setembro de 2014 estreava no Categóricos o poeta Ronaldo Nogueira (na época morador de Portugal), o que redeu muitos admiradores portugueses e uma consolidação literária enquanto site luso-brasileiro. O “quarteto fantástico” da literatura contemporânea e digital (assim brincavam) tinha muita liga e atingiram outros patamares, como fonte de pesquisa confiável sobre escritores atuais e procurados por estudantes da UNIP e USP para teses de comunicação artística e periférica na era digital.
Com todo esse auge os irmãos Vieira embarcam agora no mundo dos negócios e lançam em Fevereiro de 2015 a primeira linha de vestuário (camisetas) do Categóricos mobilizando a marca de roupas do coletivo. As vendas do primeiro lote foram um sucesso e isso também se deve a uma grande parceria com nome e sobrenome – Gabriela Malta. Gabriela foi à primeira garota propagada da marca e por ser uma grande referência no bairro do Morro Doce e em muitos lugares de São Paulo sobre estilo e moda, foi essencial para o sucesso que à marca alcançou.
Na literatura entraram no ano de 2015 muito mais maduros e foi aí que os irmãos Vieira decretaram em janeiro daquele ano que o “quarteto fantástico” deu um novo sentido ao coletivo e por ser novo o justo era estender a co-fundação do Categóricos com Paulo e Ronaldo.
De longe foi o ano divisor de águas e em 2015 além da moda começaram a preparar algo que comprovaria isso, o lançamento do livro do Categóricos Quatro Gerações em Uma só Fala, o primeiro livro da vida dos quatro escritores. Lançado em 8 de Outubro de 2015 em São Paulo e 25 de Outubro em Pernambuco a obra destaca os quatro artistas em suas individualidades de escrita, mas que se encontram na forma linguística.
No teatro os irmãos Vieira continuavam tocando as oficinas se concentrando agora na produção do espetáculo que marcará a carreira teatral deles a um nível profissional de fato. A peça Entre-Luz estreou dia 15 de Agosto de 2015 com Dedé Vieira, Lily Vieira, Thiago Posse (in memoriam) e a direção e também atuação de Celeste Pancera. A peça foi apresentada no teatro do CEU parque Anhanguera com uma plateia lotada, pessoas de todos os cantos de São Paulo e Grande São Paulo marcaram presença.
Aí se firmava também a grande parceria do Categóricos com as escolas do Morro Doce e principalmente o CEU parque Anhanguera acolhidos pelos coordenadores de cultural da época, Jandir Nascimento e Plínio Pereira.
Mas não foi só Entre-luz que encabeçaram em 2015, paralelamente a essa produção construíram com o núcleo de teatro o segundo espetáculo onde os irmãos Vieira eram orientadores, intitula-se “Especulações” e teve como elenco Karla Oliveira, Lucas Nicolas, Viviane Siqueira e Lia Demeter (In memoriam). Estrearam em 09 de Novembro daquele ano gerando muita crítica boa o que acarretou para a decisão de seguirem em temporada com a peça.

Estamos em 15 de Março de 2016 e a escritora Karen Beatriz (São Paulo) a convite dos irmãos Vieira se junta ao Categóricos com sua literatura infanto-juvenil almejando o público teen. Karen se torna uma artista fundamental para o grupo e a articulação no plano físico em São Paulo. Não demorou muito para se tonar liderança no coletivo em tomada de decisões em projetos mediados. Já em 8 de Abril de 2016 é a vez do escritor e jornalista Jony Naim estrear no site, um nome que criou forças na luta da inclusão social no Morro Doce.

No teatro a temporada de Especulações continua fortalecendo o núcleo do Categóricos com a comunidade e a convite do CEU Parque Anhanguera, o coletivo inaugura mais uma oficina de teatro. Agora já bem estabelecido no bairro às parcerias eram muitas entre articuladores, educadores, Ongs, grupos de dança, Hip hop, o Categóricos entrava definitivamente na rede cultural do Morro Doce que pensa as políticas públicas culturais pro bairro e a cidade, 2016 o Categóricos passa a ter uma voz ativa e ouvida.
2016 também marca o auge da caminhada teatral que o grupo transitava e a temporada da peça “Especulações” repercutiu muito no bairro do Morro Doce com uma trupe talentosíssima, no elenco estavam agora Larissa Florencio, Cristiano Silva, Lia Demeter (im Memoriam), Joice mariano, Gabriela Cupian, Karla Oliveira, Lily Vieira, Ronaldo Nogueira, Bia Weber na maquiagem e Dedé Vieira na direção geral. Especulações conta sobre o sonho que Fernando Pessoa (escritor português) teve e neste sonho um mundo surreal surge questionando vários aspectos da vida e a trajetória humana. A peça foi muito bem trabalhada e apresentada, como fato o cansaço também entrou em cena, afinal tudo foi feito sem nenhum recurso financeiro e como decorrência de um trabalho longo, cansativo e sem nenhum dinheiro os rumores de uma pausa nas oficinas de teatro e produções teatrais veio à tona e se confirmou ao fim da temporada.
Neste mesmo ano com a literatura o categóricos inaugurava a primeira exposição e única no planeta que reúne fotógrafos e escritores no mesmo prisma. Fotografia Textual como foi batizada trouxe uma leitura diferente de como nós admiramos as composições fotográficas e interagimos com elas. Em São Paulo os facilitadores do Categóricos participavam de Saraus, Bienal do livro, eventos, palestras e apresentações por toda a cidade. Em 30 de outubro de 2016 entra no grupo Nanda Leal que fez dupla em uma seção no site junto com Jony Naim, a chegada de Nanda fez o Categóricos repensar em muitos aspectos do que eram e o que significavam para um território, uma cidade e um país dentro do ambiente cultural. E foi com diálogos e a percepção de mundo e repertório artístico da Nanda Leal que o Categóricos começou a se entender e reconhecer como coletivo cultural.

Como dizem “cada passo, um avanço. Cada passo, uma descoberta!” E no final de 2016 o então coletivo vislumbrava novas mídias como forma de propagação da arte, em 11 de Novembro o Categóricos lançou a primeira série de rádio em podcasts, ainda não era tendência, o que aumentou o risco de fracassos e inseguranças do coletivo, mas mesmo assim conseguiram produzir muitas edições, bons assuntos e novos horizontes de mídia literária.
Falando em fracassos é hora de mencionar eles, mas não por que eles querem e sim por que fazem parte da história e é essencial reconhecê-los para melhorar os planos. 2017 foi assim para o Categóricos, um ano de muito trabalho, muito trabalho e o resultado quase foi o fracasso total. Como experimento de novas mídias, novos meios o coletivo embarcava pelo audiovisual e começava ali a ousada produção de uma série para TV e streaming. A série chamava-se Eu Sei Que Você Sabe e foi baseada no conto da autora e também diretora da produção Karen Beatriz. Na trama a protagonista Lis sofria de uma perca de memória aguda envolta de uma história cheia de suspense e um romance teen. Tudo ocorria bem, conseguiram as locações, os cenários, os figurinos, as colaborações e as gravações foram um sucesso. Um elenco de muita vontade e qualidade foi essencial para que a filmagem acontecesse e com todo orgulho fazem a questão de mencioná-los, os atores e atrizes Ítala Magalhães, Victor Ribas, Cintia Machado, Arlen Rodrigues, Rodrigo Bilker, Vânia Dias, Lily Vieira e Dedé Vieira, roteiro de Karen Beatriz, co-roteiro de Dedé Vieira, Jony Naim e Nanda leal.  Foram feitas propagandas, coletivas de imprensa, anúncios por todas as mídias sociais e a grande descida da derrota aconteceu na pós-produção, por um desentendimento da equipe por causa do descumprimento dos prazos a série não foi editada, não se conseguiu parceria para isso e muito menos verba, consequentemente ela não foi ao ar e todo um trabalho de quase um ano jogado no lixo.
Não se existiu conversa para uma pós-produção da série no futuro e todo esse dilema mexeu muito com o coletivo que quase decretou ali o fim da caminhada do Categóricos. No território do Morro Doce fizeram uma grande parceria com o supervisor de cultura na época João Augusto Rabetti. Frustrados com o audiovisual os irmãos Vieira ainda tinham um suspiro e baseado no texto de Lily Vieira formularam o curta-metragem Pessoas Vivas Tem Tempo Pra Tudo e desse vez tiveram a valiosa edição de Rabetti e Chico Lobo, claro era uma produção menor do que uma série, mas tão eficiente quanto. No elenco contaram com Milena Neves e Arlen Rodrigues, já na produção de cenário tiveram a grande parceria dos vizinhos ali no bairro do Jaraguá com a coordenadora de cultura (na época) do CEU Vila Atlântica Karen Bessi.
Entretanto o que salvou mesmo os ânimos, reacendeu as chamas foi mais uma vez a literatura e como que parecendo uma cartada muito bem desenhada os irmãos Vieira responderam o fracasso a altura com trabalho e muita dedicação. Os irmãos Vieira junto com Rabetti (da supervisão de Cultura de Perus, região noroeste de São Paulo) e a articuladora cultural Tati Abrão elaboraram, projetaram e realizaram o SP Vozes Urbanas, um evento literário que falava da poesia cotidiana e como diferencial colocava palestras onde os protagonistas eram os próprios moradores do Morro Doce em suas distintas profissões. Mergulharam num resgate histórico, memórias, diálogos, arte, rede de moradores e principalmente o Categóricos enquanto coletivo provedor desse momento.

O SP Vozes Urbanas como evento literário se tornou tão importante nesse processo de ressurgimento do Categóricos que na abertura da primeira edição entraram em cena os contadores de histórias, os irmãos Vieira, somente a dupla apresentando dois personagens que a muito tempo almejavam mostrar, Adamastor e Zulmira. Conta-se que “as personagens viviam numa pacata cidade no interior de algum lugar e ali contavam causos com toda inocência regada de muito humor.” O Categóricos recomeçava, o Categóricos ressurgia, o Categóricos continuava sua trajetória com muita sede de fazer arte física e online.
Na parte comercial o Categóricos continuava com a linha de vestuário e o mais legal de tudo foram as propagandas com pessoas do próprio Morro Doce onde é o cérebro do coletivo, elas faziam sessões fotográficas e esse material subia para as mídia.  Muitas pessoas passaram pelo casting como modelos, pessoas dos mais variados tipos, estilos, gostos, pregava-se aí com muita intensidade a diversidade cultural que na época se falava pouco do tema e assim despertava o interesse das pessoas, mas só interesse pois as vendas despencavam a cada mês. O que fica claro, são as bandeiras, os ideias e as boas relações de cidadania que o Categóricos contribuiu para a propagação.

Chegamos em 2018 e o Categóricos aterrissa nesse ano mais maduro, calejado e destemido aos propósitos. Graças as parcerias as oficinas de teatro voltaram e uma das grandes aliadas nessa retomada foi Maria Ivone, importante liderança de meio ambiente e sociocultural no Morro Doce, fundadora do projeto Instituto Reciclando Vidas - IRV. Com Maria Ivone o coletivo pode criar intervenções artísticas com exibições em festas, feiras e confraternizações. Com a volta das oficinas e apresentações muitos foram os convites e o Categóricos enquanto teatro exibia intervenções teatrais em muito lugares como bibliotecas públicas, universidades e praças. Formaram mais uma turma do núcleo de práticas teatrais do coletivo com uma importante representatividade para escolas, coletivos e educadores da região.
Ao final de 2018 o núcleo de teatro por questões de verbas anunciou mais uma parada nas atividades, os artistas que compunham essa formação sendo eles/elas Letícia Santella, Melissa Silva, João Victor Costa, Ester Bastos, Willian Cruz, Karine, Dani Lemos, Igor Mendes, Ingrid Damasceno e Danila Gonçalves mesmo de longe ainda fazem parte do coletivo como uma espécie de legado e como um jeito livre de fazer teatro se mobilizando em editais e outros fomentos para produções e/ou oficinas.
No entanto na literatura as coisas caminhavam diferentes, a parte online e literária do Categóricos se solidificava cada dia mais e em 2018 o coletivo atrai como residentes (escritores fixos) 6 artistas – Cintia Machado (SP), Ana Carolina Lourenço (SP), Karine Aragão (RJ), Vicent (MG), Dia Nobre(PE) e Jim Carbonera (RS) juntando-se a Paulo Cheng (PE), Karen Beatriz (SP), Lily Vieira (SP) e Dedé Vieira (SP). Por eventualidades da vida Ronaldo Nogueira (SP), Jony Naim (SP) e Nanda Leal (SP) se afastaram de vez do coletivo para caminharem com seus planos pessoais.
Mesmo com a pausa do núcleo de teatro ao fim de 2018, os irmãos Vieira já em 2019 continuaram trabalhando com oficinas agora com contratos para escolas, Ong,s, empresas e carregam o legado do Categóricos em seus trabalhos.
O Categóricos enquanto incentivador da leitura e fomento da produção criativa do livro e leitura continua operante e significativo pra muitos leitores através da mídia online.
No parte comercial encerram suas atividades na produção de vestuários e acessórios.
Em 2020 o Categóricos se molda enquanto produtora/ empresa de criação e difusão de arte trabalhando
com os produtos: mídia literária, produções audiovisuais, teatro,
publicidade e suporte artístico tendo como comissão organizadora os
sócios criativos Dedé Vieira, Lily Vieira, William Cruz, José Luis e Danila Gonçalves
Assim, enquanto houver vida, enquanto houver luz, enquanto houver vontade, enquanto houver convicção da existência, haverá o Categóricos espalhando um legado de que toda forma de expressão artística é um ato de educar, sendo ela proposital ou não. Um legado que não forma admiradores e sim multiplicadores. Um legado de conquistar a confiança.
Essa carta foi escrita em terceira pessoa como prova disso, do coletivo que são, do significado que são, existiu um inicio, alguém começou, claro! mas o sucesso de uma construção depende de muitos.
Muita gratidão por nos escutar através dessas palavras. Ah! Não esqueça de tomar um Sol.


Com amor, Lily Vieira e Dedé Vieira.



[Em nossas memórias também Cristiano Régis, Lia Demeter, Dona Val e Thiago Posse]