*
Rua de Palavras
por Cintia
Machado
aos tropeços
recolho as palavras
deixadas no chão
na estrada
desorientada
guiada
por histórias
arrancadas
espalhadas
fecundo silêncio
derramado
no alivio da calçada
pedras perdidas
na memória
lascas na contramão
______________________________
No País das Maravilhas
por Cintia
Machado
Agora te fiz herói
na minha história
e também no meu país
E era uma vez
E logo desta vez
Adormeci,
Não acordei
Rasguei os versos que eu fiz
A militância e os batalhões
Com passeatas e canções
Eu enfrentava ratos
Contornava patos
Sem ter final feliz
E agora, sou rainha
Sou menina
Sinto medo de dormir
Perdi o meu papel
Larguei os meus sapatos
Costurei retratos
Me tranquei em mim
E você, entrou na vida sem avisar
Com alma pura de se admirar
Era o sapo que eu quis coroar
Pisava em cacos pelo meu país
Não, não fuja não
Ainda vamos deixar tanta memória
Acredite no feijão, da tal revolução
Suba
Suba o mais alto e tire o sapato
Caminhe em frente, siga até
Confie sempre neste pé
Sim, me dê a mão
Agora sentimos tanto medo
Revelei-te tantos segredos
Beijos não são a solução?
Cadê a revolução?
Amanheceu
O encanto se quebrou
E você,
Nem ao menos alertou
Que cavalos brancos
Não existem mais
Agora era fatal
Que mais um faz-de-conta
terminasse assim
Sem termos um quintal
Um conto tão banal
Na varanda a gente era feliz
Com tantos arranhões
Sem composições
Sem poemas
E afins
Não sabemos
Sumir no mundo
Sem ao menos avisar
Não sou a única a perguntar
O que a vida vai fazer de mim
______________________________
Refletir
por Cintia Machado, 02/02/17
ontem e hoje
passado previsto
futuro inexistente
tempo e imperfeição
trilham de mãos dadas
atravessam ruas
admiram a lua
pulam os próprios muros
avistam ao longe
o horizonte sonhado
estimo minhas lágrimas
mais que as gargalhadas
espalhadas
tropeço nas pedras
perdidas
abandonadas
caminho sem rumo
sem força
exausta
encosto pernas na solidão
contemplo o instante
antes do próximo passo
______________________________
Fogos e Estrelas
por Cintia Machado, 06/01/16
os estouros
que ninguém escuta
brilho que preenche
um céu sem estrelas
espaço interno
espaço infinito
espaço sem luz
silêncio compartilhado
na distância
na ausência
(tão presença)
de um instante
metas traçadas
na trilha incerta
de estrada tão certa de si
Cintia
Machado no Facebook
______________________________
Apenas Bom Dia
por Cintia Machado, 29/12/16
quero que seu dia
comece com poesia
que as palavras te abracem
que a paz te enlace
sou livre contigo
pra escrever
pra errar
pra chorar
pra viver sem esperar
entrego-te rimas
também as posso guardar
posso escrever sem rimar
guardo sorrisos na lembrança
sabores na memória
carinho no coração
carrego momentos na mala
carrego sentimento na alma
carrego saudade e canção
mostre seus dentes afiados
suas mãos duras
suas pernas fortes
seu casco de jacaré
mostre quem você é
dentro do seu mundo
e para o mundo lá fora
Cintia Machado no Facebook
______________________________
Filho da Terra
por Cintia Machado, 16/12/16
os caminhos são incertos
os momentos são eternos
a vida um encontro
esbarrei nos seus passos cansados
viajante que segue apressado
você que é filho da terra
amigo íntimo da natureza
quem caminha com um violão nas costas
quem segue com
passos firmes
olhar seguro
sorriso devassador
Cintia Machado no Facebook
______________________________
Espanto
por Cintia
Machado, 01/12/16
Tenho cantado canções
que não são minhas
que agradam outros
e que ferem o interior
Tenho caminhado
com pés exaustos
que se arrastam como
bichos rastejantes
Pés descalços
Tenho imitado tantas
vozes, renegando a
melodia que envolve
Que acolhe
Tenho copiado
artistas de rua
meninos que não
são aplaudidos
Tenho escrito versos
que não são lidos
palavras que não rimam
Tais espetáculos duram
apenas um farol
antes de se tornarem
lembranças perdidas
Esquecidas
Cintia
Machado no Facebook
______________________________
Comentários
Postar um comentário
Você é muito importante pra gente!